Ao longo das minhas descobertas musicais, algo que notei como essencial foi o contexto no qual eu me encontrava ao conhecer uma nova música, álbum ou artista. Independente da intenção original do compositor, boa parte do que eu sinto ao escutar uma canção está relacionado aos eventos que eu estava vivenciando nos primeiros dias em que a ouvi.
Eu imagino que esse modo de se relacionar com obras musicais específicas não seja nada de novo ou único. No entanto, penso frequentemente a respeito. A experiência pessoal define boa parte do que sentimos ao nos depararmos com qualquer informação externa. Eu cresci em Vinhedo, SP, logo escutar a palavra vinhedo provoca uma semiose bastante diferente daquela sentida por boa parte dos outros falantes da língua portuguesa. Há tantas canções que ainda me remetem à árdua tarefa pandêmica de desinfetar compras de supermercado, afinal, conheci inúmeros álbuns enquanto tentava me distrair nesses tediosos momentos.
Ao pensar nessas associações entre experiências pessoais e apreciação musical, me perguntei: e se as memórias atreladas à música forem... a própria música? Desde que me mudei para São Paulo, tive a oportunidade de assitir a muitos dos meus músicos favoritos ao vivo. O poder dessas experiências tem sido incomparável a qualquer outro: minha percepção de uma canção se transforma completamente ao ver aquele ser, até então enclausurado em uma telinha de celular ou computador, reproduzindo com seu próprio corpo mortal minhas tão amadas faixas musicais.
Nunca vou esquecer daquela noite de 15 de julho de 2022 quando, após quase 5 anos escutando suas músicas, pude finalmente prestigiar um show do Irmão Victor em toda sua glória psicodélica. Foi uma experiência incrível, e ainda pude, trêmulo, trocar um punhado de palavras com meu passo-fundense favorito. Desde então, assisti a muitos outros concertos por São Paulo, tentando, às vezes, falar alguma coisa com os músicos e procurando vencer minha ansiedade.
Até poucos anos atrás, não imaginava que eu apreciaria tanto essa coisa de ir em shows. Por boa parte da minha vida, me contentei em botar um fone, apertar o botão play no celular e me perder no rítmo e na harmonia de uma música. Eu não tinha ideia, porém, do poder que seria descobrir um álbum, apaixonar-me por suas faixas, tocando-as no fundo de tantos momentos ao longo de quase um ano, até enfim caminhar até um certo palco em um certo SESC em uma certa sexta-feira e dar de cara com a banda de Bruno Pernadas.